Viajante!

Apenas encontrará o que procura nos meus domínios caso esteja ligado com o que mais desconhece sobre si.



terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Mergulho em um Espírito Profundo

...
Tudo que é profundo aprecia o disfarce, as coisas mais
profundas têm inclusive ódio à imagem e ao símbolo. O pudor
de um deus não gostaria de pavonear-se sob a forma de seu
próprio contrário? Problema difícil. Seria estranho que não se
encontrasse algum místico que se atrevesse a agir por sua
conta. Há processos de caráter tão delicado que é conveniente
encobri-los e fazê-los irreconhecíveis através de seu pesadume,
há certas manifestações de amor e generosidade exuberante
após as quais nada há de mais aconselhável que apanhar um
bastão e surrar à testemunha ocular para turvar sua memória.
Mais de um se dedica a perturbar e a maltratar sua própria
memória, para, assim, pelo menos, vingar-se de seu único
cúmplice — o pudor é muito engenhoso. Não são as coisas
piores as que nos causam maior vergonha. Atrás de uma
máscara nada mais há que felonia. Há tanta bondade na astúcia!
Por outro lado, por delicadeza do pudor, o homem bem dotado
desse sentimento encontra seu próprio destino e suas decisões
mais delicadas em caminhos pouco freqüentados pelos homens.
Dissimula a seus olhos os perigos mortais que corre e também a
segurança que reconquistou. E. assim, ainda que não tenha
desejado, chegará u m dia em que descobrirá que, apesar de
tudo, apenas uma máscara dele é conhecida, e que é bom que
assim seja. Todo espírito profundo necessita uma máscara.
Mas, entretanto, em torno de todo espírito profundo se forma
constantemente uma máscara, graças à interpretação,
continuamente falsa, isto é, superficial, dada a todas suas
palavras e a todas manifestações de sua vida.
FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE
ALÉM DO BEM E DO MAL

Caso falar de si mesmo fosse uma tarefa fácil as pessoas não se embaraçariam tanto para responder a simples pergunta: “quem é você?”. Ora, muitos irão associar a própria identidade ao nome impresso pelos pais ou lugar onde nasceu, buscando um registro de si e suas referencias e raízes. Não irei destoar muito da maioria das pessoas, pois caso o fizesse correria o risco dos possíveis leitores não significarem isso muito bem.
Nome escolhido pelo pai, Ronaldo, sobrenome da mãe, Araujo – sem acento mesmo, como digitado na certidão de nascimento, e o sobrenome do pai, Santiago. Nascido em Salvador, morador da Cidade Baixa, 24 anos de idade. Se para as forças policiais e jurídicas essas informações já dizem muito, para mim não servem de muita coisa quando o assunto é uma apresentação, um conceito de si. Acredito que ouvindo um interlocutor pedindo para que me apresente, pensaria por segundos e responderia de uma forma que acredito ser a mais próxima de mim: depende. De muitas coisas, onde eu estou, com quem estou, que humor estou, no que penso, no que passo, no que bebo ou fumo, nas relações de poder que tal situação pudesse se caracterizar. Há uma crença de que somos um, essência, identidade. Identificamos-nos muito mais com aquele minúsculo ponto de constância que permite, através da nossa memória, perceber que somos os mesmos apesar de todo tempo que se passou. Mas como dar destaque a coisa tão ínfima e relegar um mundo repleto de mudanças, transformações, um devir que atravessa o tempo como uma metamorfose ambulante. Como pensar que aquele eu que acreditamos habitar no âmago de todo nosso ser nos representa melhor do que as infinitas máscaras que criamos e utilizamos para sustentar nossas relações sociais e a nós mesmos? Em algumas palavras gerais, posso dizer que sou múltiplo, diverso, avesso a tudo aquilo que tenta me reduzir a mim mesmo. Sou a cultura que me atravessa, constitui-me mesmo antes do meu nascimento. Sou minhas relações sociais, estão presentes em todo meu dia-a-dia. Meu desenvolvimento é o desenvolvimento do micro sistema que me rodeia. Os outros, principalmente os significativos, co-evoluem em mim numa dança onde não podemos determinar com precisão quem é um e quem é outro.

As (minhas) quatro fases da vida

Neste ponto, farei um percurso pela minha infância, onde as histórias aqui contadas provem de uma memória familiar, num esforço genealógico de encontrar e inventar meus momentos, costurando alguns destes pontos. Como dizer por que escolhi tais momentos e porque são importantes se todos eles convergiram para formatar quem sou? Sem eles talvez não fosse Eu, e mais que a soma de todos os momentos, sem eles não seria mais do que sou, não seria a minha totalidade. Os momentos aqui relatados estarão em forma de conto, com um narrador que se mistura com a primeira e a terceira pessoa, sendo aquele que conta e contado, típico discurso de quem lança um olhar para o próprio passado e parece não estar falando de si mesmo.

Aprendendo o segredo dos cadarços.

Lembro-me nas memórias de minha mãe do pequeno Ronaldo, em seu estágio cognitivo que, provavelmente, Jean Piaget chamaria de pré-operatório, aos cinco anos de idade. Ronaldo era franzino, um garoto que brincava de respirar fundo e demonstrar os seus bem delineados pares de costelas. Seus grandes olhos verdes fascinavam as tias, as amigas da mãe, as meninas da escolinha, as meninas da rua. Lembro de sua mãe amarrando-lhe os cadarços, todos os dias para ir à escola. Quando levado à escola, uma escolinha chamada Levy Miranda numa rua vizinha. Desesperava-se, agarrando-se a tudo que via. Era um sufoco todo dia. Mas quando chegava à porta da escola, largava a mão da mãe e rapidamente se despedia, não demonstrando qualquer resquício do terror vivido a segundos atrás. Sempre tentava, na hora do recreio, sentado sozinho num banco amarrar os sapatos. Vezes conseguia amarrar, vez não e quase sempre ia para casa com os cadarços desamarrados. Quando chegava em casa, sua mãe reclamava, demonstrando como seu irmão Ricardo, quatro anos mais velho, conseguia. Pronto, lá ia Ricardo demonstrar cheio de orgulhos a habilidade para o irmão. Um dia, Ronaldo recusou-se, ao chegar em casa com os cadarços desamarrados, que a mãe os amarrasse. Decidido, vendo o irmão que destramente amarrava o seu, lançou-se aos complicados nós e voltas de um laço de sapato. Por fim, conseguiu, sendo aplaudido por todos. A história de Ronaldo demonstra o que Vygotsky chamou em seus trabalhos de Zona de Desenvolvimento Proximal, que se trata de um coeficiente entre aquilo que a criança pode fazer sozinho e acompanhado por aqueles mais experientes.

A Zona de Desenvolvimento Proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão, presentemente, em estado embrionário (Vygotsky. 1984).

A morte do Nome-do-Pai.

Quando ele possuía dez anos de experiência de vida e tendo ultrapassado diversas etapas do seu desenvolvimento, o pequeno Ronaldo passaria por um acontecimento familiar que marcaria de maneira muito forte o seu futuro desenvolvimento. Lembro-me que enquanto o seu pai ainda estava em casa, às condutas eram de certa maneira. Havia um medo na expectativa de confrontar as regras paternas por conta de desejos típicos daquela idade, como por exemplo, as constantes saídas com amigos que necessitava fazer. Certa vez o pequeno Ronaldo notou uma transformação nas relações intra-familiares, percebida como propriamente um Evento de Vida. Seu pai dormia agora fora de casa, deixando de estar presente por longos períodos. Tratava-se de fato que o pai envolvia-se com outra mulher, chegando a abandonar a família para viver tais aventuras. O pequeno Ronaldo não sentiu tanto esta falta, ao menos não conscientemente, pois a ausência do pai nas relações familiares o permitiu esgarçar muitas das regras parentais como: sair mais, freqüentar mais livremente o fliperama, chegar em casa em horários nunca imaginados. A mãe, que não demonstrava tanta rigidez com tais aspectos antes da saída do pai, pouco fez para que isso acontecesse, pois estava fortemente envolvida com o próprio sofrimento e angustias que atravessava. Com isso Ronaldo pode acessar estímulos importantes para o seu desenvolvimento que nunca seriam apresentados pelos seus genitores, aspectos que apenas boas amizades poderiam proporcionar e que foram fundamentais para o seu avanço e a construção da sua identidade. Podemos perceber como este Evento de Vida influenciou a vida de Ronaldo de forma não normativa e de como o pai, a partir de então, deixa de ser uma referencia simbólica significativa em grande etapa de sua vida.

Ao experimentar um evento de vida negativo, o indivíduo precisará utilizar seus recursos emocionais, sociais e intelectuais num grau que está relacionado a maior ou menor valorização a isso atribuída. Além da avaliação feita pelo indivíduo, a origem (interna ou externa), biológica, psicológica ou social, o grau de previsibilidade, a duração dos recursos de apoio, e o grau de controle sobre a situação são variáveis que influenciam o quão estressante pode ser o evento (Wathier, 2008).

Descobrindo o gostoso toque da vida.

Certa vez, deveria ter uns oito anos, fuçava o quarto dos pais, que agora era apenas da mãe, na busca por qualquer coisa que pudesse o interessar. Revirava quinquilharias das mais diversas. Olhou no guarda roupas e para a sua surpresa deparou-se com uma pilha de revistas com mulheres nuas nas suas capas. Tal descoberta poderia ser considerada um Evento de Vida, pois tal experiência marcaria toda sua vida. Descobriu partes do corpo humano, nunca vistas, ao menos não tão de perto e em tais ângulos. Começou a sentir contrações estranhas no próprio corpo, erupções que moviam muito mais o seu corpo do que poderia mover. Algo crescente havia surgido naquele interesse pelo pudor explícito em tais páginas desvairadas. Tocou seu corpo e descobriu zonas que lhe proporcionavam igual prazer, ou mais, que certas brincadeiras na rua ou beber água quando estava morrendo de sede. Após aquele dia aquelas revistas foram visitadas muitas vezes e o sonho de obter tais espécimes expostas naquelas folhas coloridas o acompanharam para à vida. Vemos que o pequeno Ronaldo, não tão pequeno assim, pode-se dizer, alcançava o que Sigmund Freud chamaria de fase genital, enquanto se enamorava por aquelas garotas estampadas, na procura de outros objetos de amor fora do círculo familiar.

A zona de erotização é o órgão sexual. Apresenta um objeto sexual e alguma convergência dos impulsos sexuais sobre esse objeto. Assinala o ponto culminante e o declínio do complexo de Édipo pela ameaça de castração. No caso do menino, a fase fálica se caracteriza por um interesse narcísico que ele tem pelo próprio pênis em contraposição à descoberta da ausência de pênis na menina (Garcia-Rosa, 1995).

Parado em nome da lei!

Já sabia bem como fazer. Sempre que chegava do colégio, subia e aguardava impacientemente. Tinha nove anos e todas as delícias da barraca de doces lhe apeteciam muito. Eles não eram caros, mesmo assim torrava o dinheiro que a mãe lhe dava para a hora do recreio. Só que sempre queria mais. Sentado em sua cama esperava a sua irmã mais velha, Carla, sair de casa. Quando ele ouvia as rápidas passadas escada abaixo, conferia se o portão batia, logo estava a adentrar no quarto da irmã. O destino era certo, lançava-se na cesta de roupas sujas da irmã em busca de possíveis trocados nos bolsos das calças. Para a sua alegria sempre encontrava uma moeda ou outra e as suas vermes agradeciam grandemente. Certa vez quando estava no meio da operação, foi surpreendido por um rasgar de porta bem atrás dele. A irmã voltara antes do previsto. Sendo pego naquela situação, encaldeirou-se purpuramente, a boca seca não disfarçava as mordidas que lançava aos lábios, como se estivesse munido por uma raiva de si mesmo. Não havia escapatória, foi pego com a “boca na botija”, estava morto de vergonha.

De um sentimento de autocontrole sem perda de auto-estima resulta um sentimento constante de boa vontade e orgulho; de um sentimento de perda do autocontrole e de supercontrole exterior resulta uma propensão duradoura para a dúvida e a vergonha. (Erikson, 1976)

...

domingo, 14 de novembro de 2010

Rodas de Fumo

"Como rigorosos militantes fumávamos desbragadamente todos os dias, da aurora ao crepúsculo, do banheiro à cozinha, da mesa à cama, da roupa à nudez, cavalgando em loucura nossos sonhos visionários. Militantes rigorosos e corajosos em contestação permanente cada fósforo aceso como ato de protesto contra tudo e todos. Na verdade, dávamos prosseguimento, da forma possível, às fracassadas tentativas de existência e organização política de toda uma geração. Prosseguíamos no mesmo combate, transfigurando-o, inventando novas formas, mergulhando nas comunidades caóticas, nas trios coletivas, nos debates e discussões intermináveis, na busca desesperada de novas formas de convivência e no radical, definitivo, irreversível rompimento com a ordem de coisas vigentes. Fácil contestação - fácil? - que desestruturava o universo bempensante e se exprimia através da permanência da clandestinidade, passando de mão em mão, de boca a boca, de pulmão a pulmão na ciranda do baseado, néctar com nepente, erva, serva. Grandiosas "batalhas" - lembram? - registravam-se todo o santo dia, desde a procura da mercadoria na Vila Brasilãndia até a roda de samba na rua Diana, passando pela leitura do 1 Ching na rua Caiowáa sob a direção do iluminado guru. Havia, de um lado, o bloco, o magote, na sua permanente ] rebelião fantástica e, de outro, o resto, o incolor, o inodoro universo da caretagem, onde pontificavam os carrancudos patrulheiros do logos, com todas as idéias bem no lugar e encarapitados em suas dialéticas pacificadoras. De um lado, a nova intensidade e a euforia inesperadas. De outro, o mundo das obrigações e do relógio. De um lado, a dimensão ignorada pela "caretice" geral, estado de graça, alegre durar. " (Salinas Fortes, 1988:81).

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

WALT WHITMAN





UMA HORA PARA A LOUCURA E A ALEGRIA



"Uma hora para a loucura e a alegria! Ó furiosos! Oh, não me confinem!

(O que é isto que me liberta assim nas tempestades?

Que significam meus gritos em meio aos relâmpagos e aos ventos rugidores?)



Oh, beber os delírios místicos mais fundamente que qualquer outro homem!

Ó dolências selvagens e ternas! (Recomendo-as a vocês, minhas crianças,

Dou-as a vocês, como razões, ó noivo e noiva!)



Oh, me entregar a vocês, quem quer que sejam vocês, e vocês se entregarem a mim, num desafio ao mundo!

Oh, retornar ao Paraíso! Ó acanhados e femininos!

Oh, puxar vocês para mim, e plantar em vocês pela primeira vez os lábios de um homem decidido.



Oh, o quebra-cabeça, o nó de três voltas, o poço fundo e escuro – tudo isso a se desatar e a se iluminar!

Oh, precipitar-me onde finalmente haverá espaço e ar o bastante!

Ser absolvido de laços e convenções prévias, eu dos meus e vocês dos seus!

Encontrar uma nova relação – desinteressada – com o que há de melhor na Natureza!

Tirar da boca a mordaça!

Ter hoje ou todos os dias o sentimento de que sou suficiente como sou!



Oh, qualquer coisa ainda não experimentada! Qualquer coisa em transe!

Escapar totalmente aos grilhões e âncoras dos outros!

Libertar-me! Amar livremente! Arremeter perigosa e imprudentemente!

Cortejar a destruição com zombarias e convites!

Ascender, galgar os céus do amor que foi indicado para mim!

Subir até lá com minha alma inebriada!

Perder-me, se preciso for!

Alimentar o resto da vida com uma hora de completude e liberdade!

Com uma hora breve de loucura e alegria."

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Pela Borda

A cidade grita o seu nome, e ele vai, sob todas as mascaras, a chuva fina corta o seu rosto e as ruas frias gelam os seus ossos. Ele para num bar e compra uma carteira de cigarros, a noite vai ser longa, pensa. Ele ama a noite, pois é onde a maioria se esconde, buscando aquilo que pelo dia não devem demonstrar. O errado, sempre teve fascinação pelo errado, por aquilo que a maioria despreza, ao menos durante o dia. Acende um cigarro. Na próxima virada um pub, recheadas de pessoas famintas por liberar sua libido contida. Desejosos por prazer. Dança, bebidas, drogas, sexo, de todos os tipos, das mais diversas formas, contemplando multiversos de fantasias, toda noite. Pede uma bebida. Um olhar, vários corpos em movimento, pulsantes, liberando um calor perdido na troca de energias. As cores vibram em ondas diferenciadas que se confundem em um despertar de sensações delirantes. A noite, se a cidade dorme, ele está num sonho da cidade. Um sonho com códigos que a cidade não pode decifrar, que na maioria das vezes esquece que sonhou, ou conta esses sonhos como algo confuso e diversos de si. As relações começam por uma afinidade quase mórbida, numa avaliação corporal e potencialidade do despertar do desejo contido. São relações objetais, de supostos sujeitos lançando a pulsão nos objetos do prazer. Um grupo se forma, conhecidos das noites e seus derivados. A interação fica a cada gole mais forte, e as barreiras pouco a pouco caem. Um propõe um apartamento, festa depois da festa, ninguém quer parar, o doce não pode amargar. Mais bebida é necessária. Música, indispensável. Mais cigarros. O cheiro cintilante de Maria ecoa entre as baixas luzes e corpos em plena interação. Não há qualquer cincronicidade, o grupo é envolto por um turbilhão que os mistura, onde não se pode afirmar onde começa ou onde termina. Os gritos da cidade não mais podem ser ouvidos. A exigência do dia não existe nesse local. Eles ecoam um coral em associação livre, entre fumaças e suspiros, cada qual na posição que melhor liberam todas as energias. Fantasias acesas por tal usina da noite. Brasas ao ar, no gélido amanhecer da madrugada, a fome por recarga, a carga, o nada, o sonho tranqüilo do dia.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Um Quinto de Palavras.

Eras vos querida memória, quer no tempo esgueirar-se, longo sair, que minha lembrança perdi para não deixar de sempre cometer, não ser consumido pelo pecado, na confusão da noite, duplo é o nosso perdão? Sentir calor para o nosso colar e colocar coberto mistério. Viver na jaula do será, que a máscara passeia velado, ó altiva dama caçada e mergulhada em profundo resoar cheio de catarse que embebemos de toda alegria com os desejos. Toda pátria cairá no mudo chocar de ventres etéreos, surdo, sabendo que o horizonte completo não nos faça sempre aqui, não mais que aqui, agora. Espelho do dia fluente vamos andando sem rumo colando dama sem classes covardes senlantes? Sabemos do rumo que nos envolve grandemente. Bandeira a entregar, solene confusão entregue sempre ao pavor da humanidade, quase corpo reluzente que troveja razoável num caminho que não pudemos só resgatar. O poço do segredo não desvela a pulsação, temos que preservar aquilo dos pares, pobres da magia material e passional. No tubo trafegamos tudo que temos avante que ficará na tristeza sem fim como sempre constatou. Hoje onde está, que vemos por não amantes do futuro, do espaço, do universo, claro vejo santo corpo, traço tudo dos joguetes fieis, são divinas as cinco, aos cálculos desveladores dos trabalhos nossos, ávidos cauteloso cativantes de desejos. Guerra sacudida por tambores, vem!

terça-feira, 8 de junho de 2010

O monstro e o eu

Sinto o monstro que habita o meu ser, decifrando-me, código a código, estremecendo o castelo do eu. Percebo o olhar risonho da fera invadir a fechadura, o olhar dessecante, delirante, desejante, odioso, vivo! Sedento de poder, poder querer, poder fazer, poder poder. O ar gélido que é sugado entre as frechas do castelo, envolve com fugor a besta pulsante, sentindo o flavor delicioso da vida, da qual o cavaleiro da verdade, o eu, auto intitulado rei, pois é construtor da realidade, e assim acredita, nega-se a responder. Aquilo que enoja esse nobre solitário é verdadeira delícia para o animal pulsante, a fera indomada. Os pilares que sustentam o castelo tremem quando a desejante por vida ouve o discurso de poder, a carne crepitante na fogueira depois de dias sem uma boa refeição, esse ancestral delira em explosões latentes de puro gozo. A respiração ofegante, a imaginação flutuante, o desejo incontrolável. Um toque, um gosto, o caçador persegue a presa, o cavaleiro luta por sua honra. E entre ambos se da uma interdição quase incomensurável. O selvagem corre por dentre as selvas de sua própria cabeça, o civilizado vive no mundo e o primata habita.

Inacabada...

Há tensão para toda a ação, todo gosto, possíveis olhares. Pudor construído em toda dimensão e planos. Há maior traição à vida quando vivida em quatro cantos, vedados, demarcados e sobre todos os nós? Não imagino espaço mais restrito que a castração de sonhos. A figura se recompõe e decompõe, beirando a materialidade, encerrada na gaveta estéria da mais íntima instância. Aos passos para a morte, no puro delírio do fim, da estrada viva que leva para o poço obscuro do encerramento de toda possibilidade. Caminhamos éteres em plena alienação, apagados, cegos de nós mesmos. Vamos assim, sempre alheios do mundo mesmo, o nosso, sem realizações. Os espaços em branco...

terça-feira, 25 de maio de 2010

O jantar

Somos corpos em brasa,
Nada mais. Não temos história.
Somos aqui e agora.
Somos desejos sublimando,
somos nós, fora do tempo, espaço e realidade.
Somos a glória.
Sem frequência ou estação.
Somos a pausa sem hora.
Clima, invasão. Somos a onda.
Pontos e exclamação. Somos fora de nós, fora de tudo.
Segredo, mistério.
Somos voz.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O Bobo e o rei.

Quando somos nós nos diluímos, colocar-se na condição de eu, templário orgulhoso e hipócrita, é uma posição arriscada. O santo guerreiro expõe-se ao ridículo dos olhares, tomando para si a responsabilidade de afirma-se como existente, dono de um castelo que ele não pode controlar, governar. Quando afirmamos uma identidade colocada em um só mundo, realidade, esquecemos que guardamos as portas de uma prisão, esquecemos do monstro na ante sala espreitando cada brecha do nosso ser, da nossa existência. E a desconstrução acontece quando notamos que o ofegar da fera acontece em nossos pulmões, face à face, lados de uma mesma coisa, sensação, o ofegar de medo do eu em plena sintonia com o desejante do incontrolável. Mas não apenas medo sente o eu, mas alívio em supor que está no controle da besta, que tem a chave da porta, e tem, mas não sabe usar, não quer. Afinal que mais preciosa honra para o cavaleiro ter o bicho, o inimigo, trancado, domado, aprisionado pela força da sua vontade? Pobre nobreza cega e delirante, afirma-se rei, mas não passa de um bobo Cortez. Nada contra os bobos, pois caso o nosso tolo herói reconhecesse como tal estaria mais próximo de si mesmo.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Túnel do Tempo: Antigas Poesias!

Falta
O seu corpo já não me faz falta;
A sua alegria já não me invade mais;
Os seus gemidos já são sussurros vertiginosos;
A sua ausência já se faz absinto em contraste a alquimia dos nossos hormônios;
Minha vontade é surda;
Minha razão é assassina;
Meus sentimentos são corpos sem vida;
Apenas um desejo prevalece;
A da minha língua nos seus ouvidos e a sua mão afagando meus pelos.

Bi-Conciência
O homem acorda;
O poeta recomeça o sofrimento;
O homem respira;
O poeta busca o sentido para a sua falta de ar;
O homem fica ébrio para fugir da sobriedade;
O poeta fica sóbrio quando está ébrio;
O homem ama;
O poeta morre.

Noite
Vida vivida sem vida;
Morte, espera sem sorte;
Sob o manto pontilhado;
Convoco meus irmãos da dor, do sofrimento;
Sofrimento um pela perda de um amor;
Sofrimento outro por encontrar um amor;
Entre saudades e aversões;
Dilaceramos as ruas frias e sem sentido numa mesma direção;
E no auge da excitação;
Tentando expressar sua emoção;
O irmão da dor diz com simplicidade:
"-Ora, abre logo a outra garrafa do vinho”.

Sofrer
Minha mente é insana;
Meus pensamentos incontroláveis;
A angustia me mata aos poucos;
Poucos são os dias que essa sombra não dilacera minha alma;
Alma? Será que eu tenho?
Sentimentos eu sei que tenho;
Em pó e ao pó;
A vida pouco importa;
Vivo para me manter;
Talvez até para crescer;
Mais que motivação eu tenho?
Já não encontro sorrisos;
Não há afeto, carinho, consolo;
A mim só sobrou a sorte;
Nem ao menos a palavra ficou;
Mais espere, é compaixão que brota de você?
Saiba que mereço cada uma dessas coisas;
Não esqueça, eu sou o miserável, o insensível, o assassino de sentimentos.

Era uma vez...
Era uma vez um menino diferente de todas as outras crianças, ele havia nascido com um coração de pedra.
Os pais desse menino se assustaram com o problema e procuraram a cura em toda parte, quando ele fez oito anos e todos os médicos haviam ditos que a cura não existia, eles o levaram para um lugarejo afastado de tudo, em um interior daqueles, com florestas, rios e frutas no pé, achando assim que seria melhor para o menino, que não podia conviver com outras pessoas.
Logo quando chegou a esse lugar foi notado pela floresta ali, plantas e animais o fitaram e, muito curiosos passaram a segui-lo por toda a parte.
Um dia, o menino começou a andar pela floresta, andou, andou, andou até chegar a um lugar que ainda não tinha ido, lá encontrou algo inesperado, uma flor, mais não era uma flor qualquer dessas que ele já encontrou pela floresta, ela era muito bonita, tinha uma coloração fascinante, para qualquer um da cidade seria uma maravilha ver aquela flor, mas para o menino, parecia apenas uma flor, como outra qualquer, porém, o menino fez uma coisa inesperada, que a própria floresta se espantou, ele sentou-se de frente para a flor e ficou olhando para a sua direção, ficou ali por horas e horas, e quando anoiteceu ele foi embora.
No outro dia ele estava lá novamente, sentado olhando para a flor, a noticia se espalhou pela floresta e logo todos foram ver o garoto que tinha um coração de pedra contemplar a flor.
E essa cena peculiar se repetiu por vários dias, até que um dia, quando o menino chegou ao local que morava a pequenina flor, ela não estava mais lá, e para o novo espanto da floresta, ele se sentou no mesmo lugar e com a mesma expressão começou a olhar para a direção onde estava a flor, e olhando pela perspectiva do menino, via-se não a flor que estava ali, mais sim, mais atrás uma suja, dura e fria pedra.


ham???
Pessoas estranhas...
Mundo esquisito...
O.o
Eu sou normal...
No meu mundo as pessoas são assim...
Que nem eu...
Pena que ele está caindo...
... Tem doido pra tudo ... O.o
Mas... Tem sempre como piorar...
Né não?


Amor com Dor
Você quer amar?
Cuidado com o que deseja;
Amar nem sempre é ter quem você ama por perto;
Amar muitas vezes é perdoar;
É estar presente;
É viver para e pelo outro;
Mas, e quando amar significa deixar ir?
Fazer a pessoa amada ser livre;
A custo da sua própria vida;
Será que você pode suportar?
A dor de não ter mais onde se apoiar;
Não ter a quem contar os seu segredos mais profundos;
E tudo isso por amor;
Amor maior do que sua própria vida.


Fim do Fim
Pólvora, bala e gatilho;
Um instante fulminante;
O brilho da realidade refletido no metal;
A anestesia que estoura na cabeça;
Faz parar a dor no coração.

Tabojira
A tobojira é un cigarrinhu
Que nóis fuma no caximbo
Cigarinhu de tabojira
Que eu vi os erês
Os duende duente e o saci-pererê
A tabojira me deu fome
Vô no Loro amodi cumê
Coxinha, pástéu,
Enrolado com azeite de dendê
Vô lá nas igreja dos adven o tista
Ten uns matuto, uns preto e uns amarelo
Ten unzi emilianûs e unszi macarão contadu lorota
Tem indá véia deitada no chão toda torta...”
Índia Vea (Raoni Araújo).

Lágrimas em Verso
Sigo a margem da escuridão;
A solidão é o meu costume;
Faço da tristeza a minha amante;
Das sombras o meu manto;
Melancolia é o meu passatempo;
Num instante tudo se apaga;
Uma lágrima escorre;
Dela surgi uma luz;
Percorre tudo nesse mundo frio e escuro;
Atingi-me com força;
Corta-me as entranhas;
A escuridão foge amedrontada;
O raio toma forma, conteúdo;
E a realidade torna a se moldar;
Mas a escuridão me ensinou;
Sempre esperar o pior;
E assim continuo;
Esperando que essa luz se torne constante;
E da pior hipótese;
Ela, a mãe sombra, estará de braços abertos para consolar-me.


Papel
Bem vindo a minha vida de papel;
Molhada em nada serve para você;
Riscada quer dizer alguma coisa;
Queimada faz você torcer o nariz;
Pintada é o oposto do que eu quis dizer;
Dobrada oculta informações;
Se você cortar, metade é minha e a outra é sua;
Eu posso me limpar com a minha metade;
Você pode fazer isso?
Não, seu papel não é esse;
A sua idéia é só arrumar a papelada;
Sem essa de que papel embolado não serve;
Sempre tem um jeito de reciclar;
Caso esteja em branco;
Passe ferro e o limão irá aparecer;
Eu só não sei se você agüenta ver;
O que é para poucos.


O Impossível
Se eu pudesse guardar-a-chuva;
Guardaria só para mim;
Pediria numa mensagem
Uma prece sem ter fim;
Que ela una dois amantes;
Que não podem se encontrar;
É claro que eu estou falando;
Do céu e do mar.


Regresso
Sua pele, seu cheiro;
Suas palavras, seus ataques;
Seu jeito eloqüente;
Num mudo silêncio;
Ela, mãe sombra, vem me abraçar;
Aos teus seios retorno;
Ao teu berço volto para poder ninar;
Volto à solidão onde é o meu lugar;
Sei que lhe abandonei dama das trevas;
Mas peço humildemente o meu voltar;
Errei mãe, disso não posso negar;
Mas perdoa-me sinceramente;
Que não vou mais lhe magoar.


Sentimentos ao vento
Por que eu não posso chorar?
Será que as barreiras criadas
por feridas passadas já esquecidas
são mais fortes que o sofrimento atual?
Queria ao menos um dia poder esquecer
quem eu sou, no que acredito e no que sinto.
As pessoas sabem que os seus pés vão tocar
o chão assim que um passo é dado.
Talvez... Talvez se eu não soubesse disso...
Meus pés não tocassem o chão, ai eu poderia
voar.


Vida de um Guerreiro Moderno
Ir sem saber onde vou chegar;
Por ruas e labirintos contando donzelas ao passar;
Seja na dungeon ou na cidade;
Nós iremos nos encontrar;
Você, possuída, tenta me atacar;
E agora só os Deuses podem me ajudar;
Com a força do amor e da coragem eu vou te libertar;
E juntos o mal iremos derrotar.


Vinte e quatro horas
Quero te curtir, te beijar, te gozar
Serena e tranqüila no doce instante da manhã
Minha face em tua face refrescante
E sob ela poder relaxar ao som do mar
Quero te curtir, te beijar, te gozar
Morna e macia na nostalgia vermelha do horizonte
Assim como as folhas balançam
Vem meu espírito balançar
Quero te curtir, te beijar, te gozar
Fria e tempestuosa no escuro teto sobre o mar
Tira as nuvens, traz a lua para ela nos banhar
Quero te curtir, te beijar, te gozar
Na imensidão do espaço, vaga-lumes a celebrar
Te curto, te beijo, te gozo antes que você volte para o mar


O máximo de zero
Perdi.
Perdi mesmo ganhando.
Perdi sendo o melhor.
Sinto que perdi.
Perdi o que queria
Por não querer o perdi.
Ganhei o que me fez perder.
Perdi por ganhar o que queria.
Mas querer perder, eu não queria.
Aquilo que só eu sabia.
Perdi.


Cartas que nunca mandei
Pensando em versos brancos, pretos e azuis
Penso em lhe escrever uma carta
A prosa não me contenta por ser um tanto desabrida
Aos seus olhos descamados vou pelo caminho do soneto
Papel branco, mente branca como o tom da tua pele
O que quero escrever é certamente sobre você, mas o que?
É uma tarefa complicada para um jovem trovador
Pensando em ti, alegro-me e as idéias vão surgindo
Penso em rosas violetas e em uvas muito pretas
Vou tecendo as palavras, esculpindo um período
Frase a frase monto o verso da minha oração
A prece que me afoga no desejo mais ardente
Perco o fôlego, viajo longe, para longe de onde estou
Sinto gosto de uva doce e cheiro de rosas tipo você.

Poetas - Humanos - Autores
Abram os portões!
Abram os portões!
Os guerreiros vão passar!
Poetas autores, desenhistas, pensadores
Gente muito gente
Gente assim da gente
Poetas humanos, mundanos
Reunidos a celebrar
Sentido, palavra, emoção
Ponto, sem explicação
Não querendo ofender
O super Andrade, a mulher Amaral,
O incrível Condor, mas cá pra nós
Estariam orgulhosos de nós
Bem vindos ao teatro das nossas vidas

Cartilha de um Paladino errante.
Seja sempre bom. Mas saiba que quando for um pouco abaixo disso será tido como monstro.
Não desista, mesmo quando aqueles que você salvou não reconhecem os seus feitos.
Nunca espere ser reconhecido.
Lute sempre pelo que você quer.
Nunca espere que alguém faça por você.
Faça!
Se cair, levante.
Seja honesto consigo e com os outros.
Nunca espere uma missão fácil, elas não existem.
Perdeu uma batalha? Cure-se e retorna para batalhar.
Diga não ao cansaço.
Amanhã sempre um dia melhor, independente das derrotas de hoje.
Tenha força de vontade, passe-a para os membros do grupo, mesmo que eles não aceitem.
Não esqueça de dar água à montaria, beba água.
Demonstre confiança, o grupo precisa disso.
Salve sempre a donzela, mas não a acostume mal, ela sabe andar.
Use pouco a espada, a palavra vence guerras.
Destrua o mal, dentro e fora de você.
Detecte o bem, mas cuidado com aqueles que ocultam sua tendência.
Nunca peça recompensa.
Lembre-se que o máximo que você pode fazer nem sempre é o que esperam.
Dê seu máximo.
Não tenha medo do que você não conhece.
Na dúvida, você é sempre mais forte.
Olhe pelo menos três vezes para o céu durante o dia, te faz lembrar o quanto é pequeno e o quanto falta para crescer.
Olhe sempre para o chão para lembrar sempre o quanto já cresceu.


Utopia
No meu reino não tem confusão.
No meu reino não tem exclusão.
No meu reino não tem vingança.
No meu reino tem temperança.
No meu reino tem esperança.
No meu reino tem coração
Sentado no chão, brincando, pulando
Sem qualquer hesitação.
No meu reino tem soldados
De chumbo ou não.
No meu reino não tem discórdia.
No meu reino não tem derrota.
Não! No meu reino não tem confusão.
Acordei... Era só ilusão.


Não.
Falem o que quiser!
O sentimento é verdadeiro.
Minha alma clama por retribuição.
Como pode dizer: não?
Tudo com o seu limite.
Mas ingrato? Isso não.
Tenho dividas à pagar.
Não posso simplesmente mudar.
Agora que bate o coração.
Que antes tão ferido, tão rasgado.
Operado por outra alma, não.
A mesma alma que me deu a mão.
Desculpe, mas não jogarei fora.
Não serei ingrato com o meu coração.


Mundo Meu.
Meu mundo é como o nome, meu.
Uma redoma de prazeres impossíveis.
Um quadrado de lados ausentes.
No meu mundo existem picos.
Tão grandes quanto o céu.
Tão largos quanto o mar.
Mas sujeito a errosão.
Tanto ar que sopra, sopra e sopra.
Até tudo desmoronar.
Quando vejo um pico meu.
Mesmo quando a errosar.
Respiro fundo e sigo em frente.
Para no topo chegar.
A vista lá de cima me remete a Impressão de estar.
No pico mais alto de lugar qualquer.
Melhor vista de qualquer lugar.
Pois me alegro sempre e sempre.
Desse pico imponente.
Nada mais, nada menos.
Por ele estar nesse lugar.

Poema para um amigo por pura intuição.
Poeta! Guerreiro!
Ande, levante, não pare, adiante!
Somos poucos, somos cem, somos sem.
Somo mais do que mil, somos um!
Guerreiro! Poeta!
Não pare, navegar é preciso.
Mesmo que a distância lhe abale.
Um mundo lá fora nos espera.
A batalha diária.
A luta das nossas almas.
Estamos na luta, não fuja!
Não fuja, não suja, não fuja!
Não suja a alma dos teus antepassados.
Caso contrário perdemos o que conquistamos.
Grite! Blasfeme! Imponha!
Como se só houvesse esse mundo.
Pois só há para aqueles que acreditam na luta.
Lute poeta! Lute guerreiro! Lute!


Amo-Te
Meu amor.
O céu é o limite.
Não... O céu não é o limite.
Não podemos nos impor certos limites.
Quando falamos de amor.
Vem, repousa nas minhas asas.
Vamos voar, vamos viver, vamos sonhar.
E caso estejamos em queda.
Segura minha mão.
Confia em mim.
Se rompermos o chão.
Romperemos juntos.
Juntos, nos recuperaremos.
E voltaremos a voar.
Na mesma imensidão.
Deste espaço sem fim.
Fica comigo.
Ama-me para eu poder te respirar.
Amo-Te.


Um dia de chuva
Luto!
Luto por minha alma, meus valores, meus amores
Luto pelo amanhã, hoje e o ontem
Luto pela minha vida, vivida muitas vezes sem vida
Luto pela sociedade, a freguesia, o pão caro de cada dia
Luto por mim, por você, você e você
Nascidos num mundo de desgraças
"Zoomorfização Humana: o homem recebe um salário suficiente (nem sempre) Para comer"

Até a Morte [...]
Mate a boca do inimigo
Quem dá o sentido não é o soldado
Estuprado no ventre da guerra
Mesmo lá, o senso deverá
Avante! Missão, soldado morto no chão
Palavras ao ar, pistola sacar
Tiro no coração da pátria
O passado rola no sangue dos inocentes
O gatilho certeiro sem querer
Os fatos são sempre assim
História vai, vem, e no vai e vem
Vai e nunca vem, fica e nunca muda
Transumância, nunca!
O soldado que vai nunca volta
Parte dele é da guerra
A palavra que não volta
A ferida que não se cura
A trincheira deixa marcas
O sangue no terreno
A bandeira suja de lama e passado
Passado, passado, nunca passando
Sempre passado.

O Alvo e a Mira

A caça, tola caça, mal percebe o perigo que sofre, em meio a todas as outras caças está alienada tramas que a envolvem. O caçador, tão selvagem quanto a caça, necessário dizer, espreita furtivamente o grupo, mas o seu alvo ele já escolheu a muito tempo. A conexão que se estabelece entre ambos é uma leitura corporal. Do caçador para a caça e da caça para si mesma. Nesse jogo perverso, um é atitude, voracidade, selvagem, e pesa a sua aparição no grupo ao qual analisa, pois ele deve ser rápido como um raio, para que os outros não socorram sua vítima. O outro está cheio de sobrevivência, vontade de viver, de afirmar a vida em tudo aquilo que é moral e honroso, mas é detentor de uma fragilidade tamanha, medo e orgulho. E nesse impasse, e nessa luta por precisão, por estrutura bem definida que desejo e vontade dançam uma guerra sempre inacabada. O coração pulsa num só ritmo.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O Estandarte e seu Sujeito

Na montanha mais alta da floresta cujos espinhos das árvores e das plantas petrificam e laceram qualquer corpo que se exponha a eles. No topo de tal grotesca terra brota todo tipo de fera dantesca e risonha, sedentas para devorar a alma, especialmente as mais nobres, daqueles que por um dia, um tempo, ousaram penetrar em inóspito bosque que cerca tão tenebrante montanha, morada do se mais incontrolável que possa existir em toda a extensão daquelas terras. Em plena noite, onde a verdade não existe, ou existe para aquele que nela acredita. O nosso glorioso cavaleiro, que tem nessa escolha o seu estandarte, caminha rumo ao desconhecido que tem certeza que irá desvelar. Bravo e corajoso, orgulhoso e confiante, cavalga solitário para o habitat do medo, rancor, raiva e prazer, caverna onde respira tal sangrenta criatura. Entre as matas, o rei de si não vê nada a sua frente, no imenso abismo farfalhante, mas percebe cada canto do seu existir se cobiçado por vários olhos , por todos os lados, não! Esse olhar é apenas um, um grito por sua carne fresca e tenaz, tragando aquilo que o constitui para um caldeirão repleto de ódio e prazer, como se o ventre da terra seus pés fossem puxados para tudo aquilo que ele não aceita. E o estandarte que o representa segue o seu caminho floresta a dentro, enquanto o sujeito fica sem saber se foi partido ou partiu para fora de si.

domingo, 4 de abril de 2010

Dever, Poder e Querer

É sempre aquela sensação iminente, latente, de que tudo vai se desorganizar, ou que se organizará de outra forma, fora da norma, da regra, do sistema. Porém há a infeliz certeza da verdade de que nada acontecerá, agonizante verdade sustentada por uma vontade traidora, pacificadora de tudo que existe, menos do sujeito desejante. A absoluta certeza da verdade é aquilo que angustia, que castra as possibilidades de metamorfose, de toda fantasia, de todo corpo, inclusive da imaginação. Essa falta controlada, rédias curtas da razão e da emoção de que serve a vontade, na verdade apavora tal sujeito imperativo e imperador das leis que regem a moral particular e universal. É assim que esse eu domestica-dor aplica no eu desejante a domesticação que recebeu e idealizou dos outros, tornando esse imperativo em um ideal do eu. Mas como a vida é em sua existência um combate entre forças na busca pelo poder, cria-se no cerne individual um campo de batalha onde a paz só é possível quando a verdade não existe e os maniqueísmos são deixados de lado. É nesse momento que nada pode ser dito ou pensado, quando o silêncio é ouvido e sentido e que o sujeito desejante aflora, dono de si e de seu querer, deixando de lado o estandarte da vontade e pulando, saltando e voando ao encontro do seu vazio, seja através do corpo, da fantasia simbólica ou da livre imaginação.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Noite das Realizações Inconsciêntes

As duas gotas de suor
Se entrelaçam diante da minha lente de impressões
Elas dançam entre suspiros e sussurros
Escorrendo entre formas e cores
Quase que em sublime evaporação
Pois rubor e calor se fazem íntimos
No tocar da matéria pulsante
Na homeostase térmica os corpos
densas gotas brilhantes no semi-escuro reluzente
Se cruzam e se misturam
Formando a estupefata cena em contínua expansão
O meu eu
Sem saber se está dentro ou fora de mim
Estando voltado para tamanha beleza
Compartilha com atenção
Imaginação e idéias
Bem como o rijo pulsar da sensível experiência
Sente a fonte da gota agora una
Invadir a extensão da carne viva e cheia de calor
A outra metade do signo que esse eu contempla
O significante funde-se ao significado
Formando a trindade simbólica
Sujeito - significado - significante
Onde significado é a conexão
A chave de toda libertação.