Viajante!

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quarta-feira, 2 de maio de 2012

A arte do Olhar.



Delicado olhar, envolto por nevoa de magia, direcionado, assertivo, esquivo e cuidadoso.
Quem é você? Fez o campo parar, sem ar, profundo desligamento do mundo. Conheço esse olhar, não é mero fascínio lançado a meros mortais. Majestade em antigo espírito, profundo espírito. Majestade paralisa, embobece, retira o foco dos sentidos, captura em seu mais íntimo desejo. Majestade cria medo quando se gasta força de vontade e sentimos o que tal habilidade nos faz enquanto presença. Uma marca que é gravada pelo olhar que te toma e transporta para cenas jamais vistas. Um quadro dentre tantos quadros nos corredores de um museu das humanidades que simplesmente lhe faz parar, te deixa meio tonto e extasiado e que toma boa parte do seu passeio. Um relance é preciso para que tudo se apague, as pessoas, os passos e os quadros, num instante tudo vira névoa e como num dissipar dos raios do dia, surge imensa e gloriosa esmeralda espacial radiante em contraste com o negro e infinito céu. É enorme a sensação e pequenez e de como sou sugado por esse estalo sem ao menos me mover. É a arte de um olhar que ferve quando passa e destaca uma obra que se mistura com você. É possível sentir o cheiro da tinta fresca com a qual, a cada pincelada, foi-se tomando tais formas sedutoras. Quantas cores, não há como contar. Perco o espaço entre as sombras e o eco entre os tons faz sonora vibrante que desperta em um raio de sol. Luz por toda parte, pontos luminosos pipocam e gotejam pólen prateado. O estreito horizonte me arrepia com sua profundidade e a angustia trava minha saliva cada vez que penso no que pode existir nesta funda cratera do olhar. É impossível não olhar, mas do olhar, como o sol em pleno dia, não há como sustentar por muito tempo e escorrego por delicadas formas de um vermelho sorriso. Num soluço desperto do instante, meio mareado como se estivesse semanas no mar. Sinto o frio do vento, um silêncio, um vazio. Fez-me tão intenso e partiu-me como sempre estivesse lá. É bela onde está. A parede, agora vejo, destaca seu encanto, seu talento de olhar, sua majestade. Recomeço a respirar, profunda e lentamente, num canto nostálgico e de puro alívio. Recomponho-me e coloco a andar, mas sem antes de relance contemplar, num pequeno instante, de raspão o seu olhar.