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quinta-feira, 23 de julho de 2015

Teorema Textual



Todo texto começa entre um trilho vazio. Pode-se ter muitos motivos para começar, mas é na imensidão deste caminho constante, com linhas ou sem linhas, que percorremos toda superfície do que será grafado. Ao texto vale tão menos as inscrições feitas que o sentido do que é transmitido.

A tinta, o grafite, o papel, a pedra, os dados, tudo isso pode variar de toda forma, o que resta e forma a sua essência é o sentido, a transmissão do que se traduz, o modo como o texto, independente da forma como se apresente, dialoga com aquele que percebe em sua leitura a magia, no sentido de encanto ou assombro, uma energia tenaz, eletrizante, do encontro entre ideias que se percebem e se reconhecem em pura complementação.

Iguais em sua diferença, pois trilham o mesmo caminho, comungam em ritmo, produzem a mesma fumaça de sentido durante o estalo do entendimento. Um texto que começou em um vazio, numa página em branco, que contemporaneamente trata-se do mesmo vazio de outrora, mas agora com um traço vertical que pisca virtualmente traduzindo a mensagem: Escreva, você pode escrever, tudo está funcionando, agora é com você, escreva, escreva...

E aqui estamos no mundo, escrevendo-o, deixando marcas e sendo marcados pelo texto do outro. Algumas vezes desejamos mesmo ter continuados em página branca, zeraríamos o nosso feed de notícias, fazendo do vazio um gozo de nada escrever, de nada ler, de não se escrever ou ser escrito. O mal-estar está depois da primeira linha, no primeiro verso, na entrelinha do que já começou, neste texto que não termina, na ideia que não chegou.

Muda-se a história de um texto quantas vezes se imaginar, misturam-se fatos com fantasias, mudam-se as palavras, frases, enredos e dramas, tornam-se crônicas, diálogos e solilóquios, mas há sempre o risco de que se perca a coerência, onde as partes não se reconheçam mais como parte de um mesmo texto, como retalhos de ideias pensadas e inconclusas. Além do grande temor de se perder a clareza, sem se saber o que é mesmo que se está dizendo e qual via tomar rumo a uma conclusão satisfatória.

Bem verdade. Hoje quem de nós não se sentiu alguma vez assim, como um texto incoerente, fragmentado, onde o capitulo cinco, recém escrito, não reconhece aquelas personagens que povoavam o capitulo dois, e para espanto de geral, nem mesmo a personagem principal se reconhece diante de tal atuação, quando se torna especta(dor) do teatro da sua vida, vislumbrando que esse capítulo de hoje vez e outra se repete.

Então, percebe-se a incoerência textual e vive-se o drama inconcluso de que este texto não faz mais sentido, que não pode mais encantar um bom leitor, que as pausas são acompanhadas por longos e penosos suspiros... Para um texto que ficará no acervo da biblioteca nacional, nas ultimas estantes, nos pontos mais altos, entregue à poeira do tempo, com o seu tema eremita, sem de fato seguir o seu intento de comunicar e ser, no mínimo, lido, esta incoerência textual pouco importa, mas aquele que se pretende lançar nos feeds de notícias, que serão telegrafados na leitura dos outros que, por sua vez, os escreverão como foram inscritos, necessitam tanto da coerência, ajustam-se tanto ao contexto padrão da comunicação, que acabam por não dizer nada mais que o ordinário.

Oficializam-se. Apagam as suas descontinuidades do perfil a fim de serem entendidos. Quando não, adotam para si o texto alheio e identificam-se através de uma narrativa alteregoica introjetada e compartilhada, pois não acreditam que seu selfie textual possam-lhes contemplar e representar enquanto tais. Não sapere aude a si mesmos. Preenchem este vazio estrutural da página em branco com conteúdos prontos, recortados e colados quase na mesma forma do vazio que os comporta. A cola desse retalho dirá sobre sua permanência.

Alguns são textos sem corpos, virtuais, fakes em um mundo em que corpos e textos andam tão desencontrados. Outros escrevem-se nos próprios corpos e com isso juram não se perder nos próprios enredos. E a questão continua para todos: Onde esta história vai nos levar? Devemos escreve-la? O imperativo é constante… Seja no desejo ou no dever. Seremos apenas corpos que respiram nas pausas do mundo? Alguém contará essa história.

sábado, 11 de julho de 2015

Infinitivo


Quero-me dentro de ti
E nada pensar
Estar fora mim
Ao te alcançar
Viajar na fronteira sem fim
E em ti me encontrar
Além das tuas curvas poder
Querer me afogar
Ter razões para viver
Te ver e gostar
Sem fazer por fazer
Ou falar por falar
Revelar mistérios noturnos
E poder conversar
Explorar o universo
Os continentes
E o profundo do mar
Conhecer da tua história à estrutura celular
Ancorar no teu corpo
Escalar o teu peito
E poder voar
Sem medo de cair e desintegrar
Inventar o teletransporte
E num só espaço nos condensar
Guardar teu cheiro num pote
E nos ares lançar
Morrer de saudades
E contigo matar