Viajante!

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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Pela Borda

A cidade grita o seu nome, e ele vai, sob todas as mascaras, a chuva fina corta o seu rosto e as ruas frias gelam os seus ossos. Ele para num bar e compra uma carteira de cigarros, a noite vai ser longa, pensa. Ele ama a noite, pois é onde a maioria se esconde, buscando aquilo que pelo dia não devem demonstrar. O errado, sempre teve fascinação pelo errado, por aquilo que a maioria despreza, ao menos durante o dia. Acende um cigarro. Na próxima virada um pub, recheadas de pessoas famintas por liberar sua libido contida. Desejosos por prazer. Dança, bebidas, drogas, sexo, de todos os tipos, das mais diversas formas, contemplando multiversos de fantasias, toda noite. Pede uma bebida. Um olhar, vários corpos em movimento, pulsantes, liberando um calor perdido na troca de energias. As cores vibram em ondas diferenciadas que se confundem em um despertar de sensações delirantes. A noite, se a cidade dorme, ele está num sonho da cidade. Um sonho com códigos que a cidade não pode decifrar, que na maioria das vezes esquece que sonhou, ou conta esses sonhos como algo confuso e diversos de si. As relações começam por uma afinidade quase mórbida, numa avaliação corporal e potencialidade do despertar do desejo contido. São relações objetais, de supostos sujeitos lançando a pulsão nos objetos do prazer. Um grupo se forma, conhecidos das noites e seus derivados. A interação fica a cada gole mais forte, e as barreiras pouco a pouco caem. Um propõe um apartamento, festa depois da festa, ninguém quer parar, o doce não pode amargar. Mais bebida é necessária. Música, indispensável. Mais cigarros. O cheiro cintilante de Maria ecoa entre as baixas luzes e corpos em plena interação. Não há qualquer cincronicidade, o grupo é envolto por um turbilhão que os mistura, onde não se pode afirmar onde começa ou onde termina. Os gritos da cidade não mais podem ser ouvidos. A exigência do dia não existe nesse local. Eles ecoam um coral em associação livre, entre fumaças e suspiros, cada qual na posição que melhor liberam todas as energias. Fantasias acesas por tal usina da noite. Brasas ao ar, no gélido amanhecer da madrugada, a fome por recarga, a carga, o nada, o sonho tranqüilo do dia.