Viajante!

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domingo, 14 de novembro de 2010

Rodas de Fumo

"Como rigorosos militantes fumávamos desbragadamente todos os dias, da aurora ao crepúsculo, do banheiro à cozinha, da mesa à cama, da roupa à nudez, cavalgando em loucura nossos sonhos visionários. Militantes rigorosos e corajosos em contestação permanente cada fósforo aceso como ato de protesto contra tudo e todos. Na verdade, dávamos prosseguimento, da forma possível, às fracassadas tentativas de existência e organização política de toda uma geração. Prosseguíamos no mesmo combate, transfigurando-o, inventando novas formas, mergulhando nas comunidades caóticas, nas trios coletivas, nos debates e discussões intermináveis, na busca desesperada de novas formas de convivência e no radical, definitivo, irreversível rompimento com a ordem de coisas vigentes. Fácil contestação - fácil? - que desestruturava o universo bempensante e se exprimia através da permanência da clandestinidade, passando de mão em mão, de boca a boca, de pulmão a pulmão na ciranda do baseado, néctar com nepente, erva, serva. Grandiosas "batalhas" - lembram? - registravam-se todo o santo dia, desde a procura da mercadoria na Vila Brasilãndia até a roda de samba na rua Diana, passando pela leitura do 1 Ching na rua Caiowáa sob a direção do iluminado guru. Havia, de um lado, o bloco, o magote, na sua permanente ] rebelião fantástica e, de outro, o resto, o incolor, o inodoro universo da caretagem, onde pontificavam os carrancudos patrulheiros do logos, com todas as idéias bem no lugar e encarapitados em suas dialéticas pacificadoras. De um lado, a nova intensidade e a euforia inesperadas. De outro, o mundo das obrigações e do relógio. De um lado, a dimensão ignorada pela "caretice" geral, estado de graça, alegre durar. " (Salinas Fortes, 1988:81).

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

WALT WHITMAN





UMA HORA PARA A LOUCURA E A ALEGRIA



"Uma hora para a loucura e a alegria! Ó furiosos! Oh, não me confinem!

(O que é isto que me liberta assim nas tempestades?

Que significam meus gritos em meio aos relâmpagos e aos ventos rugidores?)



Oh, beber os delírios místicos mais fundamente que qualquer outro homem!

Ó dolências selvagens e ternas! (Recomendo-as a vocês, minhas crianças,

Dou-as a vocês, como razões, ó noivo e noiva!)



Oh, me entregar a vocês, quem quer que sejam vocês, e vocês se entregarem a mim, num desafio ao mundo!

Oh, retornar ao Paraíso! Ó acanhados e femininos!

Oh, puxar vocês para mim, e plantar em vocês pela primeira vez os lábios de um homem decidido.



Oh, o quebra-cabeça, o nó de três voltas, o poço fundo e escuro – tudo isso a se desatar e a se iluminar!

Oh, precipitar-me onde finalmente haverá espaço e ar o bastante!

Ser absolvido de laços e convenções prévias, eu dos meus e vocês dos seus!

Encontrar uma nova relação – desinteressada – com o que há de melhor na Natureza!

Tirar da boca a mordaça!

Ter hoje ou todos os dias o sentimento de que sou suficiente como sou!



Oh, qualquer coisa ainda não experimentada! Qualquer coisa em transe!

Escapar totalmente aos grilhões e âncoras dos outros!

Libertar-me! Amar livremente! Arremeter perigosa e imprudentemente!

Cortejar a destruição com zombarias e convites!

Ascender, galgar os céus do amor que foi indicado para mim!

Subir até lá com minha alma inebriada!

Perder-me, se preciso for!

Alimentar o resto da vida com uma hora de completude e liberdade!

Com uma hora breve de loucura e alegria."