Viajante!

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sexta-feira, 16 de maio de 2008

Carta para um suicida

Passar pelo grande véu, entrar no coma absoluto, mergulhar nas profundezas da inconsciência, curar todas as dores, fugir de todos os problemas, não pagar as contas, não mais ser alienado, despreocupar-se com o futuro, numa passagem rápida e indolor, mesmo sem saber se isso faz realmente diferença, a força que torna tudo o que acreditamos e vivemos em um completo monte de excrementos cíclicos, simplesmente morte.
Muitas vezes a desejo, talvez não tantas quanto às muitas vezes que faço referencia, mas ainda assim todas as vezes que considero não haver sentido para essa grande piada que chamamos de vida. Citando algumas vantagens de se estar morto, destaco algumas como: você não fica doente, dinheiro pouco lhe importa, acredito que para onde você vá a sua cor da pele não importe tanto, mas não tenho certeza, não precisa depender de governantes incompetentes e corruptos que defendem leis brancas, machistas e elitistas para que a sua condição de “vida” melhore e sem falar no maravilhoso descanso eterno. Vantagens realmente tentadoras se não fossem alguns detalhes.
Primeiro você nasce sabendo que um dia morrerá, e encontra pessoas que logo de cara lhe amarão – ressaltando as exceções dos que nascem dentro de sacos e são jogados nos rios da vida – então você cresce e conhece pessoas que lhe amam mais e mais, pessoas que a sua morte seria algo traumatizante, pessoas que você odiaria fazer chorar. Logo após vem o caixão, um absurdo monetário, sua família paga uma armação de madeira, flores, no chão é sempre mais caro, a parede é mais em conta, colocam em você a sua melhor roupa, e pra que? Você não vai sair dali, você não respira, não come, não bebe e eles têem que pagar até o cal que colocam na entrada do seu sepulcro? Por quê? Ai você pensa: será que quero fazer aqueles que amo passar por tudo isso? Até documento provando que o cara apagou, eles vão ter que se preocupar em tirar. E tudo isso por que você foi covarde, ficou com medo do futuro, da vida e das inúmeras questões mal resolvidas que ela lhe apresentou. Tudo bem que essa não é a regra, mas se você é daqueles que prefere morrer ao enfrentá-la, pense bem, reflita e independente da escolha que fizer. Boa sorte.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Cartas que nunca mandei

Pensando em versos brancos, pretos e azuis
Penso em lhe escrever uma carta
A prosa não me contenta por ser um tanto desabrida
Aos seus olhos descamados vou pelo caminho do soneto

Papel branco, mente branca como o tom da tua pele
O que quero escrever é certamente sobre você, mas o que?
É uma tarefa complicada para um jovem trovador
Pensando em ti, alegro-me e as idéias vão surgindo

Penso em rosas violetas e em uvas muito pretas
Vou tecendo as palavras, esculpindo um período
Frase a frase monto o verso da minha oração

A prece que me afoga no desejo mais ardente
Perco o fôlego, viajo longe, para longe de onde estou
Sinto gosto de uva doce e cheiro de rosas tipo você