Viajante!

Apenas encontrará o que procura nos meus domínios caso esteja ligado com o que mais desconhece sobre si.



terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Entrelinhas


Quem é você?
Que se esconde atrás do texto
Que revela os seus desejos
Sem com isso se mostrar
Como é que pode?
Quando explode o pensamento
A palavra e o alento
Nasce um texto e um tormento
Que insiste em se mostrar
E se esconder
No entre olhar
De cada linha
E a palavra escolhida
Não se sabe se bem vinda
Tende sempre a se adequar
Ao seu olhar, ao olhar do outro
Que respeita ou não a pausa
E vai seguindo
Palavra por palavra
Definindo tudo aquilo que se pode ser
Texto pronto!
Porta voz da liberdade
Expressa a alma, sublima!
Se enche de vaidade
Explode a cachoeira do texto
É o próprio sangue na tinta da caneta
Que escorre entre os dedos
E inunda o papel
Projeção ideal
E no fim...
A parte do texto que não diz muito sobre mim
O ponto final.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Elogio à Melancolia


Tempo, temporal e tempestade
Uma gota de chuva, vento e ventania
Estático movimento, lento e sem alento
As árvores percebem e não há pássaros a cantar
As ondas do mar se agitam
Os gatos e os ratos meditam
Tudo fica calmo e tranquilo
O vento atrasa e o ar esquenta
Cachorro em baixo do sofá
Mormaço e quarentena
O sol se embota...
O chão fica escuro e o céu fica claro
Tudo fica cinza e o mar fica calmo
Outro balanço...
E no meio de um lamento
Raios e trovões!
Visão e audição somem por um momento
Céu mais claro que o dia
Engole um seco e traga a alma
O ar desaba em gotas
Recheadas de sintonia
Preparam-se enquanto caem
Para sua mais nova harmonia
Cada gota que explode solta uma nota de magia
E em segundos temos uma triste melodia
Onde o vento é o maestro que ordena essa agonia
Cada estouro! Cada sopro!
Cada gota diz um pouco de como será o dia
Linda sinfonia! Que ressoa no telhado...
No passar do carro, escorrendo no vidro embaçado
Não se escuta mais o dia, só um triste soneto de melancolia
Um alento e um tormento
Com o rosto em uma janela
Perco-me nelas de vista
E fico ali pensando...
Como pode uma canção
Ser tão triste e tão bela?

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Encontros


Paixões são como rios
Correndo soltos nas veias
Afluentes desembestados
Cercados de rocha e areia
Uns menores e uns maiores
Movendo-se lado a lado
Suas nascentes se divergem
Mas trilham o mesmo caminho
Sem aviso e sem convite
Desaguam num só destino
Seguem calmos e tranquilos
Esculpindo as suas rotas
Fazem curvas
Aguentam caídas
Mas quando desembocam...
Estrondo! Estrondo!
Nas margens desse encontro
Ah! Bruta flor do querer
Palavras desgovernadas
Insubordinadas
Que não quietam à silenciar
Ah! Muda manhã...
Me ensina seus truques
Acalma essas águas
Que nem ao menos um sussurro...
Um gemido se possa ecoar
E tranquilo nessas ondas
Poder navegar
Ah...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A lição de Salomão



Salomão é conhecido pela sua grande sabedoria. Um dos seus contos narra o dilema de duas mulheres que brigam pela maternidade de uma criança. O conto narra também a sua brilhante solução ao conflito e nos fala muito sobre a noção de Justiça. Mas esta narrativa nos informa também, como que miticamente, sobre as nossas relações afetivas e de duas grandes vias que tomamos ao nos colocarmos nos papéis das supostas mães da criança. As duas mulheres, a mãe biológica e, digamos, a mãe usurpadora, demonstram terem construído um desejo por ocupar esse lugar materno para a criança em questão. Ainda não sabemos quem das duas diz a verdade no que se refere a quem de fato pariu a infante, mas há um desejo legitimo das duas para engajarem-se no conflito, independente dos seus motivos. Pensando nas nossas relações frente ao que desejamos e que por algum motivo não podemos nos apropriar, Salomão nos mostra duas saídas possíveis: Na impossibilidade da apropriação, podemos optar por destruir aquilo que queremos e nos contentarmos com os pedaços que conseguimos para, de qualquer forma, realizarmos o nosso desejo, ou podemos abdicar daquilo que desejamos para preservar a integridade do outro que é desejado, mesmo que o sentimento de perda se imponha e que julguemos haver injustiça na separação. Acredito que Salomão nos revelou que o verdadeiro amor é aquele que preserva a pessoa amada mesmo que para isso sejamos nós a perder a integridade, abrindo mão da realização dos nossos desejos em relação ao outro mesmo que tenhamos a certeza de que temos o direito á realiza-lo.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O Despertar.


A consciência do caminho e da imprescindível continuidade de todos os processos é um grande despertar para a própria construção. Ser na experiência e ser na experiência do conhecimento conectam-se em uma perfeita transmissão. Seu reflexo torna-se a sua reflexão. Pensamento e ação em uma única fração. Enquanto o corpo pondera e a mente reage, você desperta! Mas não pense que um despertar lhe tornará um mago de verdade. O que você viu foi apenas a ponta do iceberg. O que está por vir é muito mais terrível que esse excesso de luz que os seus olhos sonolentos conseguem agora deslumbrar. Uma vez acordado, prepare-se para um mundo de sombras, bordas, decalques distinguíveis entre raios de luz e contornos de trevas. O despertar queima como fogo, marcando em brasa a nossa vontade, forjando algo novo. Morre aquele velho olhar... Nasci um iniciado... Um novo ciclo e um novo despertar.