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segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Crônica 1 Parte 1

Essa é a crônica de um rapaz que um dia teve tudo.


Antes que possa continuar com a história vale a pena fazer certas ressalvas que acredito, ira fazer com que você, caro leitor, possa entender um pouco da personalidade das personagens. Quero pedir que não façam julgamentos precipitados acerca das suas atitudes.
Nesse momento vocês devem estar se indagando sobre como este rapaz da história pode perder tudo, mas peço que se lembrem que muitas vezes em nossas vidas não notamos que simplesmente temos tudo o que precisamos para viver, estamos sempre em busca de algo mais, projetando situações que nunca vivenciamos, é como ficar esperando uma correspondência de alguém que você não conhece sobre um assunto que você desconhece.
Terminando esse meu monologo pré-cronical, perdoem o neologismo, quero apenas falar de algo um tanto quanto obvio. Já devem ter notado que se alguém perdeu algo é por que já o tinha, ninguém perde o que não tem, parece até bobo da minha parte, porém existem pessoas que confundem esse perder com o não ter algo que não as pertenciam. O entendimento dessa linha de pensamento ajudará e muito a vocês leitores da crônica que por fim será contada.

18 de Julho de 2005.
Estamos numa casa que fica do outro lado do mundo. Sei o que estão pensando, mas nossa personagem definiu o lugar assim, sem endereços ou números, apenas do outro lado do mundo. É uma tarde muito quente e abafada, provavelmente umas 15h, uma típica segunda-feira e da porta da rua via-se um grande corredor, meio escuro e assombrado, silencioso e acomodado, os únicos sons que existiam eram os da rua, crianças, alguns carros e pessoas a conversar. Passando pela porta e adentrando o corredor vemos na primeira porta um quarto, muito desorganizado, bagunça pra todo lado, roupas espalhadas no chão e com o mesmo aspecto do corredor. Numa cama de casal está ele, o nosso rapaz, deitado de barriga para cima, bem à vontade, olhando os diversos giros do ventilador de teto que fazia um estridente barulho quase inaudível. Ao lado dele, deitada para outro lado, ela contemplando um computador ligado, disfarçando uma visível inquietude.
Uma vez dentro do quarto vocês podem agora notar, como qualquer um que entrasse no recinto notaria, que existe um clima pesado, algo mórbido, fora do normal, o dia, o ar pesado ao trago mais forte, o calor e a tensão vinda das nossas personagens.
Com certo receio de ser mal educado deixe-me apresentá-los, mas serei sucinto na minha discrição, pois o fenótipo das personagens pouco importa. Ele, Icaro, 18 anos, mal humorado quando acha que deve ser, bem humorado quando lhe dão a chance de ser. Ela, Alice, 22 anos, sonhadora e apaixonada, inexperiente com a vida que lhe apresenta, mas sempre batalha pelo que quer, mesmo que vá gastar tudo aquilo que conseguiu em 2 ou 3 dias, raramente fica desempregada.
Bom, até aqui já puderam notar que há algo de muito estranho no quarto, um casal de namorados em uma tarde quente de segunda-feira com a casa completamente vazia estão por vários minutos e segundos assim, simplesmente deitados na casa com caras entediadas, afastados e calados por tanto tempo, realmente muito estranho, mas o cenário é esse e quando tudo parece confuso, alguém do lado de fora coloca uma música, você sempre será de Marjori Estiano, e o silêncio é quebrado, não pela música, mas por um muxoxo, ela se vira para olhar para ele com lágrimas nos olhos, ele por sua vez continua contemplando o ventilador como se nada estivesse acontecendo no mundo, é o seu jeito de encarar as coisas. Passado mais alguns minutos e sucessivas repetições da mesma música, ela começa a encostar-se a ele procurando um pouco de carinho, ele pensa o porquê dela não agir como as pessoas que estão brigadas agem normalmente, é como ele pensa e antes dele tomar qualquer atitude mais um som invade o quarto, o do MSN, e ambos olham e na plaquinha diz assim: “feliz aniversário, Alice, felicidades :D”.
Aproveitando a cena ele se levanta com o pretexto de beber água, ela vai responder a mensagem.
Pois bem, caro leitor, entendo o seu espanto, pois já está concluindo coisas que o faz tirar certas conclusões como: Icaro e Alice são namorados. Estamos no dia do aniversário dela e pelo que parece estão brigados.
Independente das conclusões que possam tomar agora peço que sigam o meu conselho dado no início desse texto e esperem até o final dessa história, pois ai sim serão capazes de julgar, apesar de não precisarem fazer isso.
Ele anda arrastando os pés entrando na copa e por fim a cosinha. A água, o seu pretexto, desce-lhe a garganta com algum custo, apesar do calor ele não estava realmente com sede. Antes de voltar ele contempla um pouco o céu e depois um grande quadro posto na parede da copa, uma bela peça que expressa a linhagem católica familiar de Alice. Notem que apesar do gosto pela arte, sempre gastava alguns segundos quando podia para analisá-la, não estava ali apenas para contemplar, queria mesmo fazer cera, sabia o que encontraria na volta, entendia como as pessoas agiam principalmente ela.
Dando passos mais lentos do que os da ida ele retorna ao quarto e, lançando-se na cama, nota que ela está aos risos com alguém que lhe deseja feliz aniversário. Aquilo age como um vulcão dentro dele, como ela podia estar aos risos se há minutos, talvez segundos, estava as lágrimas, era como se toda raiva do mundo percorresse pelo seu corpo e enquanto todo esse sentimento acontecia, nada e nem uma casca de emoção externava dele se não a mesma expressão fria como se nada no mundo tivesse alguma importância perante aos seus olhos desinteressados.

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