Viajante!

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segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Era uma vez... Um anjo.

Ao longe, bem distante, ele ouvia algo que lhe chamava, convocava-o para um mundo diferente do que estava vivendo. Se lhe dessem a chance de escolher provavelmente escolheria o que está vivendo agora, mas alguma coisa muito forte dizia que era hora de retornar. Sinos tocavam em sua cabeça e como num mergulho em águas rasas ele despertou ao som do seu despertador.
Confuso pela dormência do despertar, ainda não entendia por que o seu relógio, o único que possuía e que já estava velho e acabado, lhe acordara enquanto o céu ainda estava escuro. Eram cinco da manhã, levantou o tronco e tateando os óculos lembrou-se que estava vivo. Hoje era um dia especial, tinha prova a fazer, por isso estava acordando tão cedo.
Levantou-se por completo. De toalha nos ombros e descendo as escadas começa o que mais parece um ritual, coloca umas músicas das suas prediletas, toma banho, café, enfim, coisa de uma hora e já estava fazendo cera no computador. Seis e dez decide partir, confere as canetas e lápis, barras de cereais, água, carteira e as chaves, por fim, após ter novamente conferido se tudo estava certo, partiu.
Tinha as instruções da mãe, não tinha como não acertar o local. Pensava em coisas boas, ria sozinho. Achava-se meio maluco por isso, mas quando via as outras pessoas, cada uma com a sua rotina, ficava tranqüilo, “o mundo que é louco”, pensava ele.
Após uma bela subida, onde caminhava sozinho, é domingo e a cidade ainda nem havia acordado. Tentando prestar atenção nas coisas ao seu redor muitas vezes se perdia em pensamentos fantasiosos, qualquer bobagem o divertia, notou que em uma rua as casas eram de arquitetura do século passado, ou seriam de outro século? O importante é que sabia reconhecer, gostava da história e ia imaginando aquele lugar em tempos atrás.
Depois da informação certa que pegara com um senhor que varria as ruas, vencera a timidez naquele momento, era caso de extrema importância, chegou ao local da prova. Ali na porta muitos candidatos já estavam à espera da abertura dos portões. Fatigado da caminhada procurou sentar, viu que muitos sentavam no passeio, pessoas de caras ansiosas, poucos riam, todos preocupados em passar. Ele lembrou de um trecho de uma música do poeta Renato. “Ter carro do ano, TV a cores, pagar imposto, ter pistolão, ter filho na escola, férias na Europa, conta bancária, comprar feijão. Ser responsável, cristão convicto, cidadão modelo, burguês padrão. Você tem que passar no vestibular”.
Sorriu de si mesmo, tinha consciência do que era aquilo, contudo sabia que devia jogar aquele jogo.
Sentado sobre uma sombra estratégica ficou observando as pessoas ao seu redor, umas solitárias como ele, concentradas, perdidas em seus próprios pensamentos, outras reunidas em conversas sobre a futura avaliação. Ele estava começando a se chatear de toda aquela masturbação mental, se ao menos fosse fazer a prova no mesmo local dos amigos de curso poderiam estar conversando e rindo de outras coisas, ele os induziria a isso. Decidiu então olhar os vendedores, uns vendendo canetas mágicas, outros águas milagrosas, “bebeu passou!” gritava um homem atarracado e cabeludo perto da entrada. Aquilo era bem mais divertido de se analisar, porém a sua alegria durou pouco, atrás dele havia parado um carro, um garoto esperando e a mãe enchendo-lhe com precauções e cuidados, parecia mesmo que ela iria fazer a prova. Cansado da verborréia da mulher levantou e foi sentar em outro lugar, aquela altura o lugar já estava cheio e uma vaga na sombra estava disputadíssima, foi para o mais longe que pode da multidão. Ficou em pé, seu desejo agora era que os portões se abrissem e aquele povo todo entrasse, talvez lá tivesse um pouco de paz.
Notou um homem que estava filmando a multidão, pela credencial era da televisão local, ficou imaginando como seriam as imagens que passariam no jornal do meio dia. Voltou a se divertir, a rir sozinho.
Em meio ao povo e passando por ele, viu uma garota que caminhava em direção aos portões e não teve dificuldade de se lembrar.

(Imagem com muita luz, um pouco sem foco, tudo muito etéreo – flash back).
Estava no curso em um dia de janeiro - como o vestibular havia adiado o dia da prova os cursos promoveram essas aulas extras, revisões – rindo como sempre de alguma piada boba ao lado de um amigo. O professor havia entrado na sala e enquanto isso ele pegava o seu material, foi quando ergueu a cabeça que viu uma das coisas mais lindas que já vira. Cabelos quase negros, olhos cor de avelã, alva como a lua, estatura mediana e nariz semi-empinado, uma graça, linda foi como ele a definiu, pensou em um anjo e imaginou que se existissem seriam assim. Foi acordado do seu devaneio pelo comentário do amigo que também a observava. Hora ou outra na aula tirava um tempo para contemplá-la, mas quando surgia o perigo de que seu olhar o denuncia-se, retirava-o rapidamente.
Outro dia no curso estava concentrado na aula, de vez em quando espiava de rabo de olho, notou que tinha também um belo sorriso, algo displicente e infantil. No meio de uma aula ela saiu da sala e quando voltou, ao sentar meteu o braço desastradamente no estojo fazendo pular lápis e caneta para todo lado. Foi incontrolável, ele riu gostosamente, não queria rir, ela podia achá-lo indelicado ou talvez até rude, mas foi incontrolável, aquele ato de desastres era digno dos que ele cometia. Enquanto estava rindo esperou que ela o olhasse com desaprovação, porém ela também riu e ficou logo rubra com o desastre. Era como se bolhas pipocassem diante dos seus olhos assim como acontecia nos desenhos animados.
(Imagem normal – Fim do flash back).
Ela havia encontrado uma amiga, estavam se cumprimentando. Ele logo ficou animado, uma coincidência mais do que válida, mesmo que não fosse falar com ela, se conhecia e sabia que a sua timidez não o deixaria fazer isso, contudo, estava contente em olhar, achou estranho ela estar ali, imaginou que ela iria fazer alguma área biológica ou até exatas, mas pensou que um colégio tão grande teria espaço para provas de outras áreas.
Ficou observando, já havia esquecido das pessoas impacientes a sua volta, por vezes tinha a impressão que ela o olhara e quando isso acontecia retirava rapidamente o olhar, pensava então que devia ser coisa da sua cabeça, ela não estaria olhando pra ele, “não mesmo” foi o que pensou.
Os portões finalmente se abriram, aquele mundo de gente se adiantou. Normalmente ficaria ali fora evitando a multidão, não fazia diferença se seria o primeiro ou o ultimo a entrar, contudo adiantou-se, nem ele mesmo entendeu até que por um engarrafamento das pessoas ficou emparelhado com ela, rapidamente se concentrou na sua frente e evitou o contato visual, a timidez que há muito era pior e que hoje era apenas branda já lhe fez passar por situações parecidas. Era sempre assim, não entendia por que fazia isso, mas simplesmente o fazia. As pessoas começaram a andar e eles chegaram ao lado de dentro do lugar.
O colégio parecia grande, logo a frente um caminho que dava num saguão era ladeado de grama com duas escadas laterais, cada uma para uma direção, a frente seguia-se o corredor para outras partes do colégio. Era bonito apesar de acabado, pensou que no passado, no tempo da sua mãe, devia ser lindo, estudar num colégio grande daqueles teria sido muito bom. Ele tentou se orientar pelas indicações numerais das salas, estava meio distraído com tudo que via e viu com tristeza ela subir as escadas do lado oposto com a amiga. Ele andava tranquilamente e via o quanto era grande lugar. Leu numa sala ao longe o número três mil e seis, esquecera que mesmo de óculos tinha uma péssima visão e seguiu por um corredor para aquela direção. Viu só então que a sua sala não era por ali, onde vira três mil e seis na verdade era três mil e vinte seis. Batendo na cabeça e chamando-se de lerdo retornou.
Para sua surpresa, ela vinha do outro lado, para o lado oposto, ela e a amiga conversando muito risonhas. Foi impossível desviar o olhar dessa vez, mas continuou sem titubear. Finalmente encontrou a sala, três mil e oito. Uma fiscal estava posta na cadeira ao lado da porta, olhou para dentro da sala e viu já algumas pessoas sentadas, perguntou para fiscal que horas eram, “sete e vinte cinco”, anunciou. Ele tinha tempo, a prova só começaria ás oito horas, não era doido de entrar agora e compartilhar aquela tensão com os que estavam lá dentro, lá fora era agradável, um bom vento, um céu bonito e azul, poucas nuvens. Decidiu ficar ali esperando o horário.
Num piscar de olhos, como num passe de mágica ela vinha surgindo ainda com a amiga, pararam em frente à sala três mil e oito, despediram-se aos beijos e desejos de boa sorte. Enquanto isso ele pensava que ela teria vindo trazer a amiga para sua sala, não era possível que o que estava pensando fosse verdade. Como se o universo atendesse o seu pedido mais interno, ela ficara e a amiga rumava para a sua respectiva sala. Nesse momento não sabia bem o que fazer, talvez não fizesse nada, era covarde demais para iniciar uma conversa, nesse momento ela conferia o seu nome na lista perto da porta, precisava olhar para cima para melhor ver os nomes, ele ria internamente, era engraçado para ele ver todo aquele esforço. Ela olhou a sala e logo após veio em sua direção, de uma maneira rápida como se tivesse medo de que no meio do gesto desistisse da ação disse:
“Você é do cursinho né? Lembra de mim?”
Ele confirmou. Pode nesse momento olhar diretamente em seus olhos e achou injusto compará-los a avelãs apenas, eram envernizados, o mais brilhante castanho que já vira.
Então desatinaram a conversar. Ele mais tranqüilo agora. Ela animada por encontrar um papo, parecia ansiosa e ele falava algumas palavras tranqüilizantes. Ele ainda não acreditava em tal coincidência, mas elas não pararam por ai. Falavam sobre vestibular, sobre o que iam fazer e descobriram que iriam concorrer ao mesmo curso, até a mesma ramificação do curso. Comentaram sobre o outro vestibular que passou e descobriram mais uma vez que eram concorrentes, mas infelizmente ela não passara da primeira fase, nessa hora ele desejou não ter entrado nesse assunto, queria que ela tivesse passado, assim existiria a chance de cursarem a mesma faculdade. Ele disse meio que sem jeito que havia passado da primeira fase, ela o elogiou, ele tentou ser o mais simplório possível e ela graciosamente tornou a falar dizendo que havia passado em um outro vestibular, mas que era longe e muito tarde para a volta, ele elogiou e concordou. Mudaram o rumo da conversa falando sobre estratégias de prova, ele dava umas dicas, ela concordava achando aquilo tudo muito instrutivo. Ela perguntou o seu nome, ele o disse e fez um breve sinal como se perguntasse mudamente o dela, porém ela não entendera o sinal e continuou a falar.
E foi assim que o tempo passara, uma das fiscais vinha advertindo os alunos para que entrassem nas salas. Entraram rindo de uma última piada boba dele, podia ser tímido, mas quando lhe davam a chance a quem dizia que era super engraçado mesmo que não achasse. Na sala o ar era só tensão, lembrava um campo de concentração, todos sentados e calados, esperando a prova. Ele sentou na segunda cadeira da segunda fileira depois da porta. Ela sentou uma fileira depois dele e uma cadeira atrás. O calor se fazia presente a cada instante, ele contemplou os ventiladores parados no teto, temeu que não estivessem funcionando, olhou para traz e há viu com uma expressão tensa e olhou pra ele fazendo mímicas, queria se comunicar, ele fez uma graça e aconselhou que respirasse, porém não sabia se ele havia entendido. Ela lhe ofereceu uma bala, ele não aceitou, tinha balas no bolso, mas depois pensou que devia ter aceitado, era tarde.
A prova estava para começar e eles hora ou outra se comunicavam, riam de algo ou faziam comentários mudos. Ele ouviu a fiscal falar o nome dela quando lhe entregava o caderno de resposta, riu de si mesmo, até o nome achara bonito, simples e bonito.
Finalmente a prova foi entregue. O tempo ia passando e os sons que podia se ouvir na sala eram o dos ventiladores, dos lápis riscando os papeis. Entre idas ao banheiro ele aproveitava a volta para olhar para ela, mas sem perder a concentração na prova. Aos poucos os participantes iam saindo, uma a um, e quando ele terminou, faltando coisa de vinte minutos para o termino, reuniu o material, assinou onde devia e saiu. Antes se virou e sorriu pra ela que o olhava.
Esperando no lado de fora num ponto estratégico, não o ônibus, mas sim ela. Olhava atentamente para o portão na esperança dela sair. O ponto estava apinhado de gente, muitas comentando sobre a prova feita, mas isso não estava o incomodando agora, estava na expectativa. Logo ela saiu e veio andando como se pensasse em algo, rosto meio sério, ele pensou em ir até ela, porém as suas pernas não se mexeram. Ela o viu e veio em sua direção, ele sorriu, não conseguia conter o riso, talvez simplesmente não o quisesse. Fizeram breves comentários sobre a prova, logo apareceu à amiga dela. Conversaram e num certo momento ela retirou da mochila um biscoito desses que parecem uma barra de cereal, abriu meio sem jeito a embalagem, então o biscoito caiu no chão. Todos riam, ele, ela e a amiga. Ela lembrou do episódio do estojo e ele o contou bem ao seu jeito e riram mais um bocado.
O transporte da amiga havia chegado, ela despediu-se de todos e partiu. Eles voltaram a conversar e quando o silêncio reinava, ele ou ela puxava um assunto. O ônibus não tardou a chegar, estava socado e quando subiram não havia mais lugar para sentar. Ele encostou-se a uma das laterais. Ela encontrou um conhecido que logo lhe cedeu o lugar, relutou um pouco, mas logo aceitou o lugar. O coletivo ia seguindo e a sensação de que aquilo estava acabando entrava na cabeça dele, sabia que daqui a instantes iria soltar e ela seguir. Não conversavam muito por que o ônibus estava muito cheio, mas hora ou outra ela falava algo, fazia uma piada e ele respondia aos comentários, ele evitava falar por que tinha que se segurar bem onde estava. Perto de onde soltaria, ela perguntou onde ele soltaria e ele respondeu que quando ele dissesse “tchau, até amanhã” saberia onde ele iria soltar, riam e logo chegou o seu ponto, despediu-se e foi abrindo caminho entre o povo aglomerado.Saiu e respirou profundamente, viu o ônibus seguir, ficou meio tristonho, mas logo se animou com uma idéia, amanhã viria ela novamente, nem que fosse mais uma vez.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ahhh, mais o que é isso... nem pegou o telefone dela!!!!
Você precisa fazer outro vestibular!!!rsrs
Sorte, amanhã...
Beijos

Unknown disse...

Sei que ja se passaram 2 meses
mas vc quer meu telefone ?
*_*
auhsouahouaha

ps: meus comentarios, vc vai ler em outro lugar.