Viajante!

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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Nas Sombras de Uma Cidade



Acordo cedo. Vou para o trabalho. Ando pelas ruas. Meu Deus! Como ha pessoas que ainda dormem? No ponto, espero com medo. Sei que hoje é dia de corte. Espero sobreviver. Fui demitido. Amanhã vencerá o aluguel. Minha família está longe. Sou despejado por um proprietário gordo e feroz. O que farei? Pego minhas coisas e parto sem rumo. A tarde é muito quente e muitos são os passos no quente asfalto rumo a qualquer lugar. Meus últimos trocados tentam em vão saciar minha fome com qualquer besteira. A noite cai. Uma angustia se aproxima ao pé da minha barriga. Minha primeira noite nas ruas. Já sinto o frio que me veste. A fome que preenche meu estomago e o medo que circula minha cabeça. Procuro um canto entre os desabrigados e descubro que a noite, nas ruas, é muito mais difícil encontrar um lugar do que pagar um aluguel. O tempo passa. A fome aperta, o frio congela e a essa altura meu corpo é puro medo. Meu Deus! Deus dos desgraçados. Traz um antídoto que me tire a fome, que rasgue minha pele e retire esse frio e que adormeça minha cabeça para que o medo não seja problema. Silencio... Vejo no chão sujo e pedregoso um sinal. Um pequeno e amarelado sinal. Um antídoto divino. Trago aquela palavra, letra por letra, enquanto a minha fome vai passando, assim como o frio que já não sinto mais. O medo ainda me atormenta. Preciso de mais antídotos, procuro... Encontro, adeus fome, adeus frio, adeus medo. Mas diante de uma tormenta de alucinações, escuto o estampido estridente do atrito produzido pelo encontro de um pedregulho em uma cabeça humana. Já não sei, exatamente, o que acontece. Vejo um brilho vermelho cobrindo o chão como um tecido de seda. Minhas pernas já não aguentam mais. Deito sobre o quente e pulsante tecido, me cubro como se estivesse a me banhar, coloco meu ouvido na terra e de olhos fechados ouço o coração da minha mãe batendo forte, muito forte. Abraça-me mãe Terra, coloca-me pra dormir, nutre-me, protege-me deste mundo. Aos poucos, deixo este mundo. Mudo e silenciado. O sol, em seu desjejum, reconhece toda a cena. A sociedade acorda e agora é a melhor hora para dormir. Profundo... Acordo com o estampido do transito em meus ouvidos e a luz do sol em meus olhos. Enfim, mais uma noite, sobrevivi! 

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