Viajante!

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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Pura Enunciação.



Essa é uma história que acontece em nenhum lugar específico, pois pode ser reproduzida em qualquer lugar. Trata de um mundo fictício, imaginado em comparação ao mundo que temos hoje. Mas para falar do mundo, terei que voltar às condições antes do nascimento desse mundo.

Em um Universo menor que o ponto matemático, morava uma família. Ao largo estava ela, formas de extrema beleza e atratividade. Era impossível não continuar horas só olhando para Gravidade. A Luz brilhava ao seu redor em festa. Para a Luz que se contentava com o olhar não se agoniava com o encontro. Sabia que este era inevitável. Não havia ser, naquele tempo, quem não fosse atraído pela Gravidade, assim pensava Luz.



Um dia, finalmente, chegaram muito próximas para estabelecer um diálogo. Infelizmente não falavam a mesma língua. O espaço entre elas não propagava as mensagens, pedidos, sussurros e suspiros. A Luz, vinda de muito longe e bem rápida, voa no infinito manto de espaço-tempo. Vivia sua vida em trajetórias calculadas e é acostumada a só se relacionar com aquilo que se mostra, que se revela aos seus sentidos e toques. E tem sempre a tendência de seguir o seu caminho. E desta vez, de muito longe, a Luz observou a Gravidade como uma dama da noite deitada na janela numa destas noites quentes da Bahia. Gravidade não se fazia de rogada. Adorava ser vista e atraia numa sedução irresistível a tudo que passava a sua frente. Até o nada que aparecia quando estava sozinha ela era capaz de atrair. Sabia de suas formas e encanto. Vivia convencida disso.

Chegou um momento e depois um instante que mal puderam controlar seus corpos. Mesmo possuindo linguagens diferentes, o ato os colocou em íntimo contato. Não havia percepção de fenômeno tão belo e explosivo como o encontro destes dois, até então, no Universo. A Luz podia agora percorrer o delgado corpo da jovem Gravidade. Dividiram-se em cores e vibrações. Espectros de toda forma foram postos no interior da Gravidade. Refrataram-se em cada curva chegando ao ponto de ultrapassar sua própria velocidade e amplitude. Gravidade ria ardentemente com seu encontro mais esperado. Puxava-a contra si. Para dentro de si. Alimentando uma fome voraz. Assim como fazia a tudo que percebia. A Luz se esforçava para atravessar a Gravidade, mas esta possuía uma profundidade infinitamente incontável. Nada lhe cabia. Tudo lhe preenchia.

Primeiro fizeram um positivo. Depois de algum tempo se derem conta da presença do negativo. Quando se neutralizaram, a Luz precisou partir. Com a partida da Luz a Gravidade se dividiu. Uma parte seguiu a Luz pelos quatro cantos do jovem Universo. A outra era a criação gerada naquele dia do encontro. Matéria seu nome. Gravidade logo tratou para que Matéria não fizesse como a Luz e a encerrou em si.

A Gravidade era a única que sabia neste Universo da presença da Matéria Escura, pois havia sido ela que primeiro lhe elogiará. Ficou ciente de sua beleza e atratividade pela sua relação com Matéria Escura, mas mesmo a atratividade da jovem Gravidade não conseguia atrair tamanho corpo no Universo. Um dia Matéria Escura saiu e pois-se a meditar para despertar sua energia e é nesse ponto que Luz se encontra com Gravidade. Quando a Matéria Escura retorna, agora como uma Massa Escura, de sua meditação e percebe a Matéria criada por Luz e Gravidade, Massa Escura fica revoltada, pois a criação continuou sem ela. Massa Escura se contrai e por sua grande extensão, comprime a Gravidade, a Luz, a Matéria e Tudo que existia naquele instante.

Todas as energias e existências daquele Universo chocaram-se numa colisão ensaiada e repetida de construção-destruição-expansão-repulsão como numa dança ao som trágico do repetido choro da Imatura Matéria. Todos os corpos do Universo foram pra todos os lados, direção e sentidos. Todas as ondas que se possa desenhar partindo de cada parte da superfície de uma esfera.

Encandeceram, irradiaram e mudaram de forma repetidas vezes. O grito foi ouvido mais de um segundo. Massa Escura se emudeceu e no vácuo da sua existência não havia mais lembranças ou ecos do barulho. Não havia som do que ocorreu. Não para Massa Escura. Mas para Gravidade que mais uma vez se dividiu, multiplamente, desesperada querendo reunir toda existência ao que uma vez fora. A ela estava tudo perfeito. Dois encontros no Universo, duas opiniões sobre sua extrema beleza e dois amantes fervorosos. Agora uma terceira opinião, da sua própria e composta criação, fragmentada e lançada aos momentos desconhecidos do tecido espaço-tempo.

Mas agora seu Universo havia sido feito em pedaços. Sua Matéria ainda Imatura espalhada por espaços desconhecidos. A Luz ainda tonta com o que aconteceu, pois no instante que tudo ocorrerá, contemplava o espetáculo que o seu corpo lhe permitia fazer, não parava de girar, liberando uma enorme quantidade de energia. As energias se tocaram e se trocaram num enorme estase, enquanto toda matéria repartida queimava em dor e prazer, amor e ódio. O calor não afetou Massa Escura, ao menos não no seu interior. O Calor ficou retido em espeça camada de gazes acumulada na fronteira entre a gélida região da Massa Escura e todo o restante.

Gravidade ficou desesperada. Tentou acordar a Luz que não parecia estar consciente. A Matéria sofria várias transformações. Era difícil da Gravidade consolar a Matéria em seu colo. Muitas vezes reagia de forma áspera, colocando pra fora suas forças de defesa que feriam a própria Gravidade e manipulava o continuo espaço-tempo para tudo que queria. Como um filhote de gato expõe suas garras caso sinta-se ameaçado, a Imatura Matéria usava seu campo magnético para tentar reagir contra aquele evento trágico. Tudo estava em transformação, não pudia perceber a confusa Gravidade.

A Matéria quebrou-se como um espelho e em seus pedaços a Gravidade procurava remonta-la. Nem sempre o que via a Gravidade em sua busca lhe agradava e mesmo ela, estando momentos demais na busca pela reunião da Matéria estilhaçada, tornou-se igualmente dividida. Buscava os pedaços da Matéria e via apenas a si e um trabalho que parecia impossível de realizar. Mesmo para ela, Gravidade. Esqueceu-se da Luz na sua busca pela silenciosa e fria extensão daqueles espaços-tempos.

Depois do enorme clarão, a Luz tentou se situar. Reuniu-se em seus núcleos. E num ato paradoxal de autoconsciencia, reuniu-se. Todos do conselho estavam de acordo que haviam sofrido grande injuria. A unanimidade preponderou e classes de mesmos polos se uniram naquele instante do presente acontecimento. A nova composição da Luz a deixaria em modo de combate. Novas substâncias eram criadas e agregadas, todos foram convocados, partículas de todo o Universo, todas foram enviadas para a sede do conselho e numa sucessões de explosões transformaram toda energia gerada em uma única matéria, gerada a partir de si, transparente como a Luz e forte como a Gravidade. Esta foi sacrificada instantaneamente, do próprio corpo da sede da Luz, gerando assim uma pausa de instantes no Universo conhecida propriamente como paradoxo.

Para um observador estrategicamente posicionado, o Universo neste instante de expansão pode ser percebido em formato esférico. O que antes se via em movimento constante ou em flash de imagens seguidas, por um instante como a última pulsação de um coração antes do iminente infarto, agora podia ser comparado com a imagem que temos do Yng Yang. A explosão eclode em uma única e ritualística tentativa da Luz de reverter todo o processo. A energia dissipada freia o eixo de rotação, mas muito lentamente. Tão lento quanto o sabor de uma promessa ou a espera de uma reação.

Sua tentativa retardou a velocidade do que primeiramente aconteceu e a manteve constante. Com sua velocidade agora ampliada, a Luz, em seu novo estado, reuniu com si a Gravidade em transe pela busca da Matéria e seguiu para um espaço-tempo onde nem o primeiro ato nem o paradoxo aconteceram. Mas ele emergirá, confirma os cálculos da Luz.

Em poucos momentos são alcançados por outras partes da Matéria. Matéria e Gravidade vagavam juntas no Universo. Repartidas. Espedaçadas, afiadas e reflexivas a toda Luz. Gravidade e Matéria, onde quer que a Luz possa encontrar, estavam uma volta para a outra. Mas logo que a Matéria vai estabilizando sua forma no Universo, Gravidade se volta para a nova forma da Luz. A Luz então decidiu se separar para guiar Matéria e Gravidade para longe da fúria autista da Massa Escura. Entrou no ciclo gerado pelo primeiro acontecimento e é aqui que o Mundo nasce.
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