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sábado, 9 de fevereiro de 2013

Ato Criador, Ato Gerador e Relato.

 
Quando um artista se inspira diante de um ente no mundo, transfere cargas de energia a este ente. O trabalho artístico nunca é solitário. A expressão pode ser criada através de inspiração depressiva e hiperativa. Pode anunciar o fatal e o natal. Dentro deste gradiente, o artista vai se posicionando em lugares ao longo de sua vida. Sua vida é marcada por picos e depressões das mais variadas experiências. Não é atoa que muitos poetas, ao tentarem explicar o ofício a um iniciante, utilizem o exemplo da flor. Ele diz assim:

Vê aquela flor? – Sim. Em geral as pessoas, a maioria delas, só pode ver uma flor. Nós poetas podemos ver mais do que uma flor.

Estando bem posicionado, o artista vive a experiência inspirada por entes de dois modos. Com a entrega. Pois precisa que toda aquela energia gerada pelo ato experiencial fique gravada na sua memória como um todo. E por outro lado, ter a certeza de que está acordado, pois crê que seu relato o lapidará como verdadeiro artista. No caso do poeta, esse relato é a poesia escrita, uma tradução de mundos que vê e ouvi que mal pode reconhecer de que mundo realmente veio. Se for ume escultor, fica gravada em mármore a percepção deste encontro com a experiência em estado de inspiração.

Três são os componentes desse relato. A energia do ente inspirador. A energia do inspirado e o relato criado. A arte em si. O grafo relatado em um ente. Um observador que participa, se envolve, se entrega. Troca energia com a inspiração. Mas que em todo processo não perde o fio da sua própria identidade e segue a trilha do seu objetivo. Uma atenção que flutua e ignora o espaço tempo. Como algo que acontece na Europa e desemboca no Brasil, podendo ser sentido na pele. Mas que não perde o seu fluxo, a sua constância.

Depois dessa miscigenação de energias concebidas como ato criador, há então o que pode ser notado. Há o ato gerador. A impressão. O relato perspectivado. É aquela dor repentina quando estamos tocando o barro no torno. Uma leve ansiedade acelera as passadas dos pés, fazendo a consciência se desequilibrar por instantes. Uma dor intestinal acomete o artista que cava seus dedos no barro molhado fazendo o movimento acabar e deformando o projeto inicial do vaso. O artista percebe que o vaso não foi danificado, mas era como se mãos invisíveis esmagassem a superfície do vaso que de sua boca poderia ser ouvido um grande grito de dor. No que pensava o artista no momento em que sua consciência desequilibrou em seu ato gerador? Ele procura por esse elemento, pois será a chave do novo relato que planeja construir a partir daquela nova experiência.

Estar atento no instante em que a inspiração acontecer. Reconhecer a existência de nove musas que concorrem e povoam seu imaginário, mas que possuem seus correspondentes no mundo dos entes. Elas serão pontos nodais das quais, construindo-se uma experiência positiva e ritualística para a liberação de energia, poderão se tornar ato de criação para ato de geração, tendo como seu resultado o relato.

O relato está cheio de energia. Quão poderoso é o ente relatado quanto mais energia ela poder mover em outros entes no mundo. Pode-se imaginar que tamanhos atos criadores e geradores, circunscrito por rituais traçados e internalizados e que energias das mais primitivas não deve ter sido movidas para a criação da Gioconda. Aquela expressão é capaz de atrair polos de todos os tipos e ainda mantem-se carregada, mesmo em suas replicações.

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