O poder próprio não corrompe, revela aquilo que se é. O poder
possibilita que você combata o poder do outro que lhe acomete, tentando lhe
alterar, lhe corromper. Sem poderes que superem as forças austeras, ou mesmo em
sua total falta – no limite da sobrevivência - somos obrigados a nos deformar,
manejar ou se adaptar à influencia das forças externas gerando, aí sim, uma
corrupção de quem se é. Se antes, sendo detentores de poderes de tal forma que
anulem essa influencia e nos deixem próprios para sermos aquilo que realmente
somos ou queremos ser, precisamente nesse momento estaremos sendo autênticos e
não corruptos. O que passa é que o que menos queremos ver é a nós mesmos.
Ficamos horrorizados com aqueles que, em posse de grandes poderes, agem como lhe
convém em um banquete do Rei ou num tribunal de justiça. Ambos lugares de
conhecida etiqueta - poderes coercivos que ditam certa conduta e rituais – e chamam
aquele que por sua vontade e poder não age como manda o script de louco,
transgressor. Trata-se de um poder de sair do contexto, se deslocar contra a
maré, não se co-rromper seguindo aquilo
que se manda, sendo aquilo que se é, não aquilo que se deve ser.
Definitivamente o si mesmo é terrível para nós. O mundo seria uma tragédia se
não fossemos corruptos, afinal todo espírito profundo necessita uma máscara.